Évora, O Nosso Encontro

Foi com muito prazer que participei nos últimos dias 11, 12 e 13 de setembro, na bela cidade de Évora, na região do Alentejo em Portugal, de um encontro de capoeira muito peculiar e também muito especial. Não por caso, esse evento foi batizado de “Nosso Encontro” e chegou agora à sua décima edição.

São 10 anos de uma idéia que surgiu do Mestre Beija-Flor e tornada realidade através da competência e esforço do nosso querido Mestre Umoi, no qual mestres, contra-mestres, professores, alunos ou simplesmente “capoeiras” de Portugal e de vários países da Europa, se reúnem num local belíssimo, para se confraternizarem, trocarem idéias e experiências, jogar muita capoeira – de todos os estilos e matrizes – fazer samba e enfim, recarregar suas baterias para continuar na luta cotidiana pela preservação e valorização da capoeira, na qual todos ali estão firmemente envolvidos.

Évora é uma cidade muito antiga, com registros no século II D.C., provavelmente fundada pelos Celtas e depois conquistada pelos Romanos, que deixaram ali belíssimas marcas da sua civilização como o Templo de Diana, a Grande Muralha que protege a cidade ou o imponente Aqueduto. Posteriormente foi tomada pelos Mouros e depois reconquistada pelos Cristãos no século XII. A cidade tem algo de especial e logo na chegada, o visitante percebe uma certa “magia” no ar, o que levou o grande escritor português José Saramago a dizer que “…Evora é principalmente um estado de espírito, aquele estado de espírito que, ao longo da sua história, a fez defender quase sempre o lugar do passado sem negar ao presente”.

E é nesse belo e mágico lugar, que todos os anos acontece o “Nosso Encontro”, que além dos mestres que há muitos anos são responsáveis pela disseminação da capoeira em terras européias, teve como convidado especial o Mestre Plínio do Grupo “Angoleiros Sim Sinhô” de São Paulo, que fez uma palestra muito envolvente e esclarecedora, principalmente para os praticantes de outros estilos, sobre o universo da capoeira angola, suas tradições e peculiaridades. E demonstrou também suas habilidades de um bom sambista, entoando pérolas do Samba-de-Roda do Recôncavo Baiano, enquanto tocava o seu pandeiro, regado com aquela boa “espremidinha”, na qual tive o prazer de acompanhá-lo.

Encontros como esse, permitem um interessante diálogo e uma rica convivência entre os participantes, e mais do que isso, permite uma conscientização cada vez maior sobre a importância de se conhecer a capoeira com mais profundidade, de se respeitar sua diversidade, de compreender e valorizar as tradições dessa arte, sem ignorar as transformações pelas quais a capoeira também passa, pois capoeira é cultura e como tudo que é cultura, é dinâmico e se transforma constantemente. Por isso vale aqui lembrar novamente as sábias palavras de Saramago: “…defender o lugar do passado, sem negar o presente“.

Fica aí  a sugestão: em 2010, vamos todos à Évora !!!

Coluna: “Crônicas da Capoeiragem” por Pedro Abib – Portal Capoeira

 

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